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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Crítica: Black Label Society – Order of the Black (2010)

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Black Label Society, banda do guitarrista Zakk Wylde, vem com um disco novo cheio de energia. Músicas no melhor estilo hard ‘n’ heavy: com solos de guitarra rápidos e fortes, pianos ocasionais, peso, bateria matadora, letras que abrangem temas clássicos, baladas ocasionais, vocal “ozzyano” (com efeitos em cima, como o eco metálico em backing); em suma, mais um disco com a cara da banda.

E escute, sem Oz [Ozzie Osbourne], eu não estaria fazendo nada do que estou fazendo agora.

- Zakk Wylde, 18 de agosto, 2010, via MusicRadar.com

É inegável o espírito do clássico vocalista do Black Sabbath neste disco. Como fá do “comedor de morcego”, meus ouvidos logo captaram o efeito similar na voz de Wyld em algumas das faixas do disco (como, por exemplo, na abertura-pancadaria Crazy Horse). Pior ainda quando Ozzy lança um disco novo no mesmo ano que o de seu ex-guitarrista! E só pra colocar mais lenha na fogueira: Zakk Wylde mantém-se fiel às suas origens musicais, coisa que não se pode dizer (exatamente) sobre o Ozzy.

Começando com o vocal, Zakk tenta mandar bem. Ele não é um vocalista nato, com alcance vocal absurdo no naipe dos falecidos Dio ou Freddie Mercury, ou mesmo com feeling como Jeff Scott Soto ou Chris Cornell. Mas, diabo, o cara sabe usar de sua rouquidão pra fazer música em que sua inabilidade vocal torna-se uma aliada! Não se precisa dispor de duas oitavas para cantar uma balada como Darkest Days ou a porrada Black Sunday. Alguns efeitos de estúdio (especialmente nos refrões) e muita vontade de cantar aquilo que você mesmo compôs e que você respira desde sempre dão conta do recado.

Esta música serve como exemplo para boa parte do disco: guitarra explícita (inclusive, ela começa em um solo de guitarra, símbolo do virtuosismo de Zakk), vocal rouco e gritado, métrica fixa (uma estrofe, refrão, outra estrofe, refrão, mais uma estrofe, solo, refrão e fim!). Com esta música e todas as outras “bate-cabeças” do disco, Wylde aposta no que sabe fazer de melhor nesta banda: no que se convencionou como tradição da banda, no comum, na identidade que marcou os outros discos e que atraiu tantos fãs. Os números comprovam: de acordo com a revista virtual Whiplash.net, o disco vendeu mais de 33000 cópias só na semana de estreia, ultrapassando a marca do disco anterior, porém perdendo ainda pro clássico da banda, Mafia.

Este fato evidencia que o público de hard rock/heavy metal identifica-se com a música que ouve de forma tal que espera que novos lançamentos possuam aquelas mesmas características, aliadas a alguma variação. Por isso, a banda buscou trabalhar o ódio, a morte, carpe diem, temas que figuram como os mais clássicos deste gênero musical. Exemplo gritante disto é Crazy Horse.

O destino apocalíptico irrecusável, intransferível e fatídico ao qual o eu lírico não pode (e nem quer) fugir: “A vision sent / For the heavens to see / This is a good way to die / Now follow me.” O herói trágico, já dizia o filósofo Luiz Pondé, é aquele que sabe que a morte o espera no fim, que não se pode escapar nem enganar o destino, mas que o enfrenta assim mesmo. Auto-confiança e determinação são essenciais nesse heroísmo: “Oh, I am / Oh, crazy horse, I am”, grita o vocal, estridente, com um quê de desespero que o estar frente a frente com o seu destino traz. A afinação grave da guitarra na base da música auxilia o ouvinte a se envolver nesta caminhada rumo à destruição. Nota importante para a bateria, que se faz presente nos momentos em que força é mais necessária!

Força para sobreviver às mais adversas dificuldades, como a perda, por exemplo. Na balada Time Waits For No One, a banda trata disto: as cruzes a carregar, os fardos a aguentar, as perdas daqueles que amamos a sustentar. E o que traz mais tragicidade e virilidade a este heroi é a certeza de "To know that nothing’s ever gonna change”: nem o sentimento pela pessoa que nos deixou, nem o quão fatídica é a vida. Quando a saída mais fácil é desistir de tudo (como ele diz em outra balada, January, “It’s hard to hold a memory, / When there’s nothing left to hold”), o eu lírico, heroi, como nós, pessoas comuns neste Capitalismo (Selvagem e) Tardio que tudo engloba, mastiga e engole, precisa(mos) continuar, com a força mencionada anteriormente.

Porém, não é apenas sobre o heroi trágico (de antes e de hoje) que o disco se desenvolve. Pelo contrário, a melhor parte do disco está no efeito multimídia do mesmo: um de seus hits, bate-cabeça como deveria ser, com vocal rouco e sujo, guitarra veloz, teve um vídeo lançado, no mínimo, cômico. Falando-se em herois, um dos mais populares foi (e ainda é) Bruce Lee.

Bom, eu definitivamente sugiro que você clique neste vídeo e assista-o em Full Screen lá no YouTube, porque vale cada segundo.

Enfim, Bruce Lee protagonizou um dos seus maiores sucessos, Jogo da Morte, em que vestia um uniforme amarelo com faixa preta e ia de encontro à sua vingança contra um chefão do crime e seus asseclas. Tarantino, o mestre do pastiche (característica mais marcante da arte contemporânea, e sobre a qual já falei um pouco aqui, com a trilha sonora do filme Kick-Ass), repaginou a ideia de ação que perpassa o momento da vingamça em seu excelente Kill Bill, quando Uma Thurman veste igual uniforme e mata os Crazy 88, asseclas da Lucy Liu, chefe do crime organizado da área.

Kings of this world
The servants shall serve
Slaves never free

Estes Reis do mundo valem-se de conceitos de irmandade para manter toda a hierarquia da gangue. Filmes como Poderoso Chefão ou Clube da Luta demonstram como os integrantes de um grupo acreditam-se parte funcional e necessária para o mesmo. “This brotherhood of snakes shall /
Rule and control / The corruption of man his fate
”. Todo este discurso é embalado por uma bateria forte, porém contida, presa, que só consegue se soltar durante o solo.

Mais do que uma apologia ao crime organizado, o eu lírico da música, possivelmente um Overlord, muda na última estrofe. Talvez após o embate entre o heroi e o grande vilão, venha a fé de que sua ação vai abrir os olhos dos outros de forma que a premonição torne-se falsa:

“The new world shall forever be
The great conspiracy
The betrayal of god
The fires of revolution
Aimed at the heavens above”

E o que Bruce Lee e Tarantino têm a ver com isso? Bom, enquanto Bruce levava a sério o ideal do heroi, Tarantino contrasta esse ideal moderno com as múltiplas facetas do homem pós-moderno. Em seu pastiche, ele reflete sobre a condição atual de se relativizar tudo: inclusive a seriedade de certos temas. Uma Thurman, após matar as “cobras” da Lucy Liu, encontra um menino no meio do grupo e, ao invés de matá-lo, ela segura o garoto, abaixa sua calça e dá palmadas nele, terminando com o aviso: “Volte pra casa”. O ator-lutador chinês jamais poderia ter consentido com tal ridicularização em sua época, porém o mundo dá voltas, as coisas mudam e…

Zakk, gordo com colant amarelo, resolve encarnar a paladínica luta entre Bem e Mal. Abusando (e muito!) de elementos cômicos em sua cruzada (como um golpe em que lança um cachorro no adversário), Wylde refaz os passos do mestre Lee, subindo os andares do QG do Overlord, derrotando quem quer que se encontre à sua frente. O momento em que Bruce é arranhado no rosto, assim como sua clássica luta com o cego negro alto são repaginados de forma cômica, mas continuam presentes.

A conclusão é simples: o ex-guitarrista do Ozzy cresceu e ganhou muita experiência, dentro e fora do Black Label Society, mas é aqui que ele pode fazer o que quiser. Até mesmo fazer mais daquilo que mais sabe fazer: valer-se dos elementos clássicos do gênero musical que o elegeu como um de seus maiores ícones atuais e entregar um disco de qualidade, por mais tradicional que o seja.

Outras críticas: Território da Música e 411Mania.

Nota: 3,5 / 5

Tracklist

1. Crazy Horse - 4:04 aprovado
2. Overlord - 6:05 aprovado
3. Parade of the Dead - 3:36
4. Darkest Days - 4:17
5. Black Sunday - 3:23
6. Southern Dissolution - 4:56
7. Time Waits for No One - 3:36 aprovado
8. Godspeed Hell Bound - 4:43
9. War of Heaven - 4:09
10. Shallow Grave - 3:37
11. Chupacabra - 0:49 aprovado
12. Riders of the Damned - 3:23
13. January – 2:21

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