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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Crítica: Joe Bonamassa e o Significado do Blues (Dust Bowl [2011])

 

joe-bonamassa-dust-bowl-2011-oucaisto.blogspot.comQual o sentido do Blues? A pergunta, incisiva, direta, propositalmente torna-se o leitmotiv da melhor faixa do disco – e, por que não?, do disco inteiro! Procurando por uma resposta a essa indagação muito músico calejado fez história – agora é a hora de um rapaz com menos de 35 anos dar a sua versão dos fatos.

Em um post antigo, falei sobre Joe Bonamassa, mas não custa nada repetir algumas informações: antes dos 15 anos de idade, já tocava guitarra bem e fora elogiado por ninguém mais, ninguém menos que B. B. King! Abriu shows para John Lang, já fez parcerias com King, John Hiatt entre outros, enfim, começou sua escalada para o sucesso. E a cada ano lança um disco com músicas inéditas, remodelando os limites do gênero em que está inserido (está?). Dust Bowl, seu álbum deste ano, lançado mês passado, comprova seu estilo musical como um todo: a busca pelo Blues, seu sentido, sua musicalidade (se é que alguma!) e como torná-lo mais jovem, mais rápido, enquadrando-o no ritmo da vida atual, sem deixar de lado o saudosismo tradicional.

I'm gonna make my own way
I'm gonna head downtown
Walk around, settle down,(…)

- Dust Bowl (faixa-título)

A música acima, entitulada Slow Train, inicia com o som do próprio trem, produzido através da guitarra do Joe. Sua batida, depois que a música começa, está longe de caracterizar-se como “slow”, mas a ideia é essa: a de encarnar o clássico tipo do interior, que sabe manejar uma viola ou banjo, e vai pra cidade grande tentar a sorte. Situação que se repete no Brasil, em Portugal e em diversos outros países industrializados. A diferença aqui está no tratamento rítmico: a guitarra expressa-se como Joe quer: ele faz com que ela “grite”, “chore”, “ria”; ele lhe dá emoções, ele a antropomorfisa e a incorpora ao sentido da música, ao tema, e, principalmente, àquilo que quer causar no seu ouvinte.

[Intro]

[Verse 1:]

There’s a slow train coming
It’s movin’ on down the line
Steel wheels on iron rails
Tonight I’m fixin’ to die
Woo, I hope you don’t mind pretty mama
Woo-hoo, hope you don’t mind if I go

[Chorus:]
‘Cause when the steam from the slow train rises
I ain’t gonna see you anymore

- Slow Train

A letra igualmente não engana: o tema do trem, já tratado em outra excelente música do guitarrista, tão característico do Blues, envolve o ouvinte nessa jornada: deixar um lugar-símbolo para trás e embarcar naquilo que não se tem ideia de onde possa te levar. O rumo ao desconhecido, a aventura e a dor de separar-se daquilo que te tornou o indivíduo que é hoje.

[Chorus:]

Lifting me up
Tearing me down
All you give me is indecision
the classic run-around
Bringing me higher
Keeping me whole
Now I feel like I'm living
Living in a dust bowl

- Dust Bowl

O refrão da faixa-título igualmente te prende ao ouvi-lo: sua “crueza” ignora rodeios e jogos de palavras, valendo-se apenas dos termos “up”, “down”, “around”, “whole”, em versos simples (segundo verso rimando com o quarto, assim como o sexto com o oitavo), refletindo a própria reflexão musical que o artista está fazendo dentro do gênero: a de tornar-se algo. Não é de estranhar que as imagens criadas pelos versos citados remetam a movimento. Ele próprio, o artista, está em movimento.

Melhor explicando: o artista está em conflito, como todo bom artista nos seus melhores momentos. Ele possui um passado, um conhecimento adquirido ao apreender/estudar aquilo que faz e começa a dialogar com esse conhecimento. (Ele entra no trem e aceita a viagem.) Aquilo que ele cria ou produz acaba se tornando algo novo, no sentido de algo em movimento, em ação: não é um produto acabado-e-ponto-final – pelo contrário, está em ebulição e goste disso quem gostar. São tentativas, são acertos-e-erros (ao mesmo tempo).

O virtuosismo de Joe Bonamassa não extrapola o limite de suas canções – antes, funde-se a elas. Preste atenção à faixa-título abaixo e como a guitarra, em um primeiro momento, vale-se do riff, traço característico do rock e do metal, para criar toda uma atmosfera, com alguns “gritinhos” ocasionais para chamar atenção e fugir do compasso fixo, para depois elevar-se, com direito a eco, distorção, e notas altas, em pouca quantidade, porém que pontuam as “frases” do instrumento.

E o tradicionalismo do Blues? Afinal, artistas do naipe de Eric Clapton, Robert Cray, Charlie Musselwhite, Dr. John entre outros referem-se cada vez mais aos seus mestres (só para ilustrar, Eric Clapton lançou recentemente dois discos em que toca músicas do seu ídolo, Robert Johnson, um dos “patriarcas” do estilo). Onde está a referência às raízes do Blues em Joe Bonamassa? Ou, refazendo a pergunta: como enquadrá-lo dentro do estilo?

Bom, as obras de arte são intertextuais por natureza: dialogam com tudo aquilo que foi produzido antes (e depois) delas, independente das influências diretas que o artista sofreu. Sendo assim, podemos definir o Joe como, já disse antes, um artista em ebulição: o classicismo bluesístico mantém-se presente em suas composições, o que pode ser visto pelo paralelismo de suas letras (as estrofes de Slow Train, por exemplo, começam todas com o verso “There’s a slow train coming”) ou pelos temas abordados, porém ele (genialmente) incorpora essas características a uma expressão filha de nosso tempo: explosiva, rápida, porém tonal, cheia de emoção.

Este é o verdadeiro sentido do Blues: a emoção que o artista carrega com ele para dentro da sua produção musical. O seu ato de criação começa a partir de uma dor. Pois a dor é o cerne do Blues. E o que fazer com essa dor é que move o mundo bluesístico: a guitarra claramente exprime essa dor, enquanto que o vigor necessário para empunhá-la e fazê-la dialogar conosco, ouvintes e meros mortais, representa a própria pulsão do poeta em escapar a essa mesma dor, superá-la e deixar, para nós, seu fruto: uma verdadeira obra de arte em ritmo, harmonia e som.

I've been weeping and weeping,
Moaning and moaning,
Crying and sighing all the day
I've been hiding my tears
Feel like dying
Wishing love would come to stay
And do you know what it means when the lord is taken away?
I cry, oh I cry
Oh I cry everyday

- The Meaning of Blues

Nota: 4,5 / 5

Track Listing

1. Slow Train aprovado
2. Dust Bowl
3. Tennessee Plates (featuring John Hiatt and Vince Gill)aprovado
4. The Meaning of the Bluesaprovado
5. Black Lung Heartache
6. You Better Watch Yourselfaprovado
7. The Last Matador of Bayonne
8. Heartbreaker (feat. Glenn Hughes)aprovado
9. No Love on the Street
10. The Whale that Swallowed Jonah
11. Sweet Rowena (feat. Vince Gill)
12. Prisoner

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