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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Segunda em Blues: Joe Bonamassa In Session On The Paul Jones Show BBC Radio 2 (Bootleg)

  Quando entrei no Google Reader para ver as notícias do mundo, dei de cara com um post excelente de um dos meus “blogs de cabeceira”, o D&P Tunz World: Joe Bonamassa ao vivo no programa do John Paul, na BBC Radio 2, no dia 19 de Outubro de 2006! Eu tinha que ouvir esse bootleg e comentá-lo, fincando-o no Segunda em Blues!!

Para quem não sabe, um pequeno resumo da vida desse jovem guitarrista: aos 4 anos de idade o moleque começou a aprender guitarra e aos 8 anos já tocava blues como um veterano – parece inclusive que foi elogiado pelo B.B. King himself!! Prestem atenção nisto, leitores: aos 12 anos, ele abriu um show para o próprio B.B. King! DOZE ANOS! :)

Não importa se isso é verdade ou não, o Blues é feito de mitos, mesmo. Afinal de contas, Robert Johnson vendeu a alma ao Diabo para se tornar o maior guitarrista de Blues de todos os tempos, certo?

Woke up dreaming,
I was gonna die.
Woke up dreaming,
I was gonna die.
‘Cause my baby said her,
Said her last goodbyes.

Joe Bonamassa, “Woke Up Dreaming”

Joe Bonamassa ao vivo!

Bom, se Robert Johnson vendeu a alma pro Diabo, então Joe Bonamassa, com a guitarra na mão, é o Diabo em si! No vídeo acima, que infelizmente não é o mesmo do Bootleg, pode-se perceber que ele toca guitarra com a virtuosidade de outros músicos contemporâneos das cordas: o brasileiro Yamandu Costa ou Stanley Jordan. Técnica impecável, ritmo alucinado, milhares de notas por segundo, composição própria (isso é importante, sangue novo em um estilo que de certa forma se estagnou em grandes nomes citando-se e homenageando-se mutuamente nos shows).

Joe começa o programa (ou pelo menos assim parece) com essa mesma música, nessa mesma agilidade. De fazer Yingwie Malmsteen ter orgulho. A letra não podia ser mais tradicional: paralelismo (aprendido através dos grandes mestres do Blues e recurso bastante utilizado em tudo quanto é canção popular), tema da mulher que abandona o apaixonado sonhador, morte como fim único para amor não (mais) correspondido. E tudo recheado com um solo de guitarra de se fazer inveja.

Joe Bonamassa na BBC Radio 2 em 2006

Aliás, falando desse tema-clássico do Blues, outra música do Joe, a faixa 4 do disco, “So Many Roads” apresenta um eu lírico em viagem de trem pelas estradas do mundo em busca da sua mulher, a qual

It was a mean old fireman
And a cruel engineer
That took my baby
And left me standing here

Joe Bonamassa, “So Many Roads”

A música começa lentamente, com notas mais graves, por conta do tema em si. A dúvida, a incerteza e mesmo o desespero pela quantidade demasiada de travessias a serem percorridas em prol da mulher roubada se encarregam de pesar na melodia. O grito do eu lírico é sentido pelo solo estridente da guitarra à lá Stevie Ray Vaughan. O paralelismo aqui impera: uma estrofe repetida, uma estrofe diferente; depois, uma estrofe repetida, uma diferente; e assim por diante. A ideia de se partir em busca de algo não é novidade no Blues: a clássica música “Crossroads”, de Robert Johnson (que já apareceu aqui, quando critiquei o disco novo de Cyndi Lauper) lida com esse tema. Lembrando ainda que era costume (e ainda é) das pessoas pobres pegar “carona” nos trens que viajam por todo o território dos Estados Unidos. Joe Bonamassa, atento a isso, costura sua letra com esse bordado: “So many roads/ So many trains to ride” é como começa a letra, deixando claro que, enquanto o Mestre Johnson não conseguia pegar trem algum (“They passed me by”), o eu lírico aqui não sabe qual pegar. São diversas opções até se chegar aos “bandidos” que não se pode decidir facilmente.

Mesmo após se decidir, ele é um personagem fadado ao fracasso: a bordo de um, ele descobre que, ao invés de estar em linha reta, ele está em uma via circular (“I thought it was a straight line / But it was B & O”). Maravilhosa a saída poética para manter o personagem no “infernal jogo da repetição”, como diria o crítico literário Terry Eagleton: nossa imagem de danação eterna é a repetição sem fim, como, por exemplo, quando vemos personagens acordando de pesadelos que não acabam. Neste caso: estradas de ferro no interior do país são, de certa forma, muito parecidas, sendo o trajeto monótomo pela similitude das paisagens que passam. Por isso a letra da música vale-se de paralelismo tão forte: apenas pela marca da repetição linguística o artista pode configurar o desespero repetitivo da demanda do pobre personagem-eu-lírico. A variação na música só pode vir do solo, magistral, da guitarra de Joe.

Porém, a variação não configura uma salvação: por melhor que seja, o solo dele se mantém dentro dos limites rítmicos e melódicos do tema-base da música. Ele até torce as regras do jogo, mas não pode quebrá-las: o personagem está decidido quanto à sua demanda:

I'm gonna find my baby
Before I'll be satisfied

mas Joe precisa deixar claro para o ouvinte que todo o preâmbulo demoníaco que circula o “rapto” da moça não há de ser quebrado. É ou não é uma forma linda de se mostrar o clássico leitmotiv romântico de que o amor é a perdição do homem?

Enfim, o bootleg possui apenas quatro faixas musicais e uma faixa de entrevista (que dura 20 minutos, mais ou menos). Vale muitíssimo à pena e eu recomendo que vocês vão agora mesmo ao blog D&P Tunz World pegar esta pérola antes que seja roubada e levada a bordo de um trem irrastreável. :)

Nota: 4,5 / 5

Tracklist:

01. Woke Up Dreaming
02. Interview
03. Walk In My Shadow
04. So Many Roads
05. Bridge To Better Days

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