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domingo, 19 de setembro de 2010

Crítica: Cyndi Lauper – Memphis Blues

 

Quando soube que Cyndi Lauper ia lançar um disco de blues, eu fiquei muito interessado. Gostava dela quando menor, depois perdi o interesse, percorri outros caminhos musicais, e eis que cruzo novamente com a minha diva dos anos 80. E investindo em um estilo que, particularmente, não é o dela. Tempero certo para um bom disco. Ou melhor dizendo, mediano.

Não é que Lauper não possua “voz para blues”, como foi criticada em outro blog. Ela mudou de lá pra cá e sua voz inicialmente escandalosamente aguda ganhou um timbre mais grave com o passar dos anos. Porém, existe algo na sua performance em estúdio, que ela diz “ter gravado suas músicas como se fosse ao vivo para reter o feeling do blues, que não se encaixa justamente com um disco de blues.

Hoje em dia, em época de diversidade sonora, é natural e esperado que o músico transcenda a música que ele faz. Falei disso brevemente ao discutir o vídeo do Dimmu Borgir e é um pensamento que estava no âmago do meu post das covers de “People Get Ready” (música proveniente de outro estilo difícil de cantar para quem não nasceu ou viveu dentro dele). Cyndi Lauper, ao contrário, para mim, apenas faz “mais do mesmo”. Acontece que este “mesmo” nunca foi parte dela.

Creio que há dois grandes méritos no disco e ambos giram em torno de escolhas: das músicas que fazem parte dele e dos músicos que participam ao longo do álbum.

Sobre as músicas, o que normalmente acontece quando um artista faz um disco sem músicas próprias? Ele pega os medalhões do estilo/pessoa que está homenageando, certo? Bom, Cyndi escolheu compositores clássicos, porém músicas não tão clássicas assim, com pouquíssimas exceções. Neste caso, sua decisão foi acertada – talvez se ela só tivesse escolhido grandes clássicos o disco se tornaria um erro risível.

Sendo assim, por exemplo, “Early in the Morning”, de Luis Jordan, encaixa-se perfeitamente na voz e no estilo de Lauper. Os versos bem-humorados, de um eu lírico procurando a pessoa amada que sumiu de casa, se encaixam com o estilo despretensioso da musa. Além disso, tem a guitarra e o backing vocal de BB King, o que já valeria a música.

E assim chegamos ao segundo mérito do disco: os artistas. Além de BB, Cyndi pôde contar com a ajuda de Charlie Musselwhite (cuja gaita na primeira música do disco ofuscou sua performance vocal, mas tudo bem), John Lang (que também participa em duas músicas: “How Blue Can You Get” e “Crossroads”, no vídeo postado lá em cima), Ann Peebles, Kenny Brown e Allen Toussaint. Todos eles, sem exceção, auxiliam a produção com seu conhecimento e experiência no blues, sem (tentar) reduzir a falta de propriedade da cantora com o que está fazendo.

Cantar algo é como apropriar-se disso. Ver Bono Vox “coverizando” sucessos de outrem é prova disso. Igualmente quando falamos de blues. É um estilo que possui como tradicionalismo a repetição de diversos versos ao longo da música. Mesmo assim, ao se tocar o clássico,  o bluesman/woman transforma  música em obra sua, deixando a sua marca nela. Retorno a Jeff Beck arrasando em “People Get Ready” ou Stevie Ray Vaughann ampliando “Voodoo Chile”. Por isso, deixo a último vídeo abaixo e a seguinte pergunta, que me faço desde que ouvi o disco pela primeira vez: Qual a marca que Cyndi Lauper deixou nas músicas que interpretou?

Nota: 2,5 / 5

Primeiramente, uma crítica que fala bem do disco: Território da Música.

Tracklist:

   1. Just Your Fool (Feat. Charlie Musselwhite)
2. Shattered Dreams (Feat. Allen Toussaint)
3. Early In The Mornin' (Feat. Allen Toussaint And B.B. King)
4. Romance In The Dark
5. How Blue Can You Get? (Feat. Jonny Lang)
6. Down Don't Bother Me (Feat. Charlie Musselwhite)
7. Don't Cry No More
8. Rollin' And Tumblin' Feat. Ann Peebles
9. Down So Low
10. Mother Earth (Feat. Allen Toussaint)
11. Crossroads (Feat. Jonny Lang)

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