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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Crítica: Shadowside – Theater of Shadows (2005)

 

Shadowside - Theatre Of Shadows

Quando um artista que está à margem de um estilo, seja econômica ou geograficamente falando, e resolve criar arte dentro deste estilo, algo acontece. No mínimo, há uma fusão entre o background desse artista e as características tradicionais do estilo, criando, assim, um híbrido. Shadowside é brasileríssimo, de Santos/SP, e resolveu criar música com elementos de algumas vertentes clássicas do Metal.

É comum ouvirmos discos de estreias de bandas brasileiras  em que pesa a identidade musical da banda, sempre oriunda de diversos sons diferentes (inclusive de folk brasileiro). Um exemplo notável desta fusão, embora seja no blues, é “Gréia”, do gaitista Jefferson Gonçalves (dedicando-se à carreira solo após sair do Baseado em Blues), o qual mescla o blues com diversos outros estilos musicais, inclusive o baião. Quando o assunto é metal, isto também ocorre, porém em escala limitada.

Ao contrário deste movimento “antropofágico” (de engolir tudo o que é externo, ruminar um pouco e depois vomitar um produto próprio), Shadowside apostou na tendência clássica de algumas vertentes do metal, mesclando-as entre si sem exageros. E acertou na mosca!

É gostoso, por exemplo, ouvir a faixa Highlight e notar a influência de um Judas Priest ou de um Metallica, enfim, de uma banda clássica do estilo. Quando no refrão, por exemplo, este culmina com o título da música em dois gritos, palavra composta com seus elementos destacados: HIGH e LIGHT, no melhor estilo “Master! Master!” do Metallica.

Ainda sobre a mesma faixa, os riffs e a bateria bem marcada também chamam a atenção, mas nada supera o choque que é quando Dani Nolden começa a cantar. Pode parecer puxa-saquismo, mas lembre-se que em diversos casos, quando uma banda possui uma voz feminina, esta acaba caindo pro lírico (muitas vezes em uma tentativa de som gótico contrastando com o vocal gutural de algum dos homens da banda). Dani por outro lado apostou naquilo que gostava de ouvir, como disse nesta entrevista ao MetalClube, e acabou criando um estilo próprio de cantar, fazendo sucesso a ponto de ser chamada para participar em apresentações com diversos músicos da cena metal brasileira.

Outro exemplo, no disco, com raízes 100% tradicionais é a segunda faixa, Vampire Hunter. Aqui, o ritmo alucinado, o vocal nervoso (beirando o ininteligível) e a cozinha a todo vapor demonstram toda a força do Power/Speedy Metal, estilo do qual não sou grande fã, mas que tem o seu valor quando usado com parcimônia. É interessante notar que, enquanto uma faixa do disco tende mais para o Heavy, outra tende mais para o Power. Desta forma, a banda oscila entre aquilo que os influenciou a fazer música e demonstra sua “fluência” nos mesmos.

Tal “fluência” não é ocasional nem perfeita. E acredito que seja de propósito. Shadowside não é uma “sombra” ou marionete de estilos anteriores à sua formação. A banda “fala” a língua desses estilos, mas em seu próprio dialeto. É ótimo não entender todo o inglês cantado na supracitada Vampire Hunter ou ver um ou outro “brasileirismo” nas letras das músicas, como em Queen of the Sky, em que lê-se “I fall but I know I can make”. “Make” what? Talvez devesse haver um complemento para este verbo, porém um brasileiro entende a estrutura criada por ser falante de português. Isso é uma forma de apropriação muito mais forte e importante do que simplesmente colocar berimbau em uma música.

Ademais, as letras são outro ponto forte da banda: frases simples, normalmente curtas, como os melhores exemplos dentro dos gêneros musicais trabalhados. E os temas, igualmente interessantes. Na suíte-título, por exemplo, que é separada em dois atos, a banda se posiciona dentro do universo metal e diz que veio pra ficar:

Hey! Shadow won't fade
We're here to dominate, there's no light without a shade
Hey! Shadow won't fade
We've come in your way to represent a brand new reign

Como que explicitando a fusão entre estilos diferentes de metal, muitas letras falam sobre o encontro entre imagens ou conceitos antagônicos. Na faixa 5, Illusions, uma mais pesadas, lembrando um pouco o thrash metal, o eu lírico clama que

You're in the place where
The day and the night
Meet each other
Starting a fight
The love and hate
Are walking together

Ou a supracitada Highligt, em que um homem, assolado pela dúvida sobre o que fazer, sobre “what is right or wrong”, percebe que “Cruel times shattered dreams/fire on water, death on life”. Novamente o contraste pode ser percebido, criando um imaginário poético forte na mente do ouvinte.

Além de tudo o que já foi dito, ainda temos alguns detalhes importantes, como a instrumental Enter the Shadowside, primeira faixa e convite irrecusável a continuar ouvindo o disco. Essa música apela para uma ambientização através de teclados e os outros instrumentos, cumprindo seu papel com gosto. Outro detalhe que chama a atenção é o teclado, presente em momentos cruciais ao longo do disco: seja começando uma música (Vampire Hunter), adicionando variação temática ao refrão de outra (We Want a Miracle) ou marcando um riff (Here to Stay). Por fim, as notas de piano maravilhosas em Queen of the Sky, música cuja introdução merece algumas palavras. Inicialmente ouve-se teclado com efeito de sintetizador, depois o som passa para o piano, que marca o riff-tema da música (depois substituído pelas guitarras). Ao aproximar-se do fim, o teclado retorna, seguido pelo piano. Porém, ao contrário de baladas do Hammerfall ou do Nightwish, nesta o piano não vem para consolidar o tema e, sim, para desconstruí-lo. Como o tema lírico é a possibilidade de voar (e fugir da realidade através desta alienação), o piano fornece o elemento musical que confirma o caráter ilusório desta fuga e abre espaço para a música seguinte, Believe in Yourself.

Nota: 4 / 5

Tracklist:

  1. Enter the Shadowside
  2. Vampire Hunter
  3. Highlight
  4. We Want A Miracle
  5. Illusions aprovado
  6. Queen Of The Sky aprovado
  7. Believe In Yourself
  8. Tonight
  9. Kingdom Of Life aprovado
  10. Red Storm
  11. Act 1 - Shadow Dance
  12. Act 2 - Here to Stay aprovado

Outras resenhas/críticas aqui: Rock On Stage e MetalZone.

Comentários
2 Comentários

2 ouvidas:

Anônimo disse...

"I can make" = conseguir. Não há complemento. Porém belo texto no geral. Nunca tinha pensado em algumas músicas desse jeito. Parabéns. Gosto muito dessa banda tb

Rafael disse...

@Anônimo, obrigado pelo comentário. Estou tentando buscar a informação que você deu, mas nos dicionários online não consigo algo satisfatório: em todos os casos (literalmente TODOS), "make" possui complemento, especialmente no sentido de conseguir. Por exemplo, "make sth. happen". Mesmo assim, obrigado pelo toque. Aliás, há outros exemplos em outras letras da banda que são menos trabalhosos. :D
Que bom que gostou do texto!
Abraços!

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