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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Crítica: Peter Gabriel & Sting – No Police Repression (Bootleg)

 

O ano é 1988, mês de Outubro. Por seis semanas, Peter Gabriel, aliado a Sting, Tracy Chapman , Bruce Springsteen e Youssou N’dour, fez 20 concertos beneficentes para tanto aumentar o conhecimento sobre a Anistia Internacional quanto para comemorar o 40o. aniversário da Declaração de Direitos Humanos. O nome da turnê: Human Rigthts Now!

No dia 15 daquele mês, o grupo de estrelas realizou seu último concerto estrategicamente na América do Sul, no estádio River Plate. Embora haja uma versão da King Biscuit Flower Hour com o show completo, a minha versão só apresenta as últimas três músicas do set do Peter Gabriel e quatro músicas do set do Sting com participações do Bruce Springsteen e do próprio Gabriel.

O interessante é que o bootleg começa com Sledgehammer, que é considerada como “a melhor fusão entre Motown e música do mundo”. Mesmo sem saber que, na verdade, esta foi a sexta música a ser tocada, eu tive uma verdadeira sensação de início de show: a música se vale de vocais inspirados pela soul music dos anos 70 aliados a um lindo sax e a teclados. Toda esta junção inicial anima a torcida, que vibra a cada pitada de virtuosismo do saxofonista Branford Marsallis.

A segunda música, “In Your Eyes”, começa com um discurso do Peter Gabriel sobre os direitos humanos. Embora possua 12 minutos de duração, não se sente o tempo passar. As repetições dos versos “In your eyes”, assim como boa parte das estrofes, são intercaladas com performances em outras línguas dos backing vocals que acompanham o músico. 

Dentro de um show que celebra Direitos Humanos, ao longo do qual acontecem discursos políticos na língua nativa do local onde ocorre o concerto, é difícil não sentir um teor político nas músicas tocadas tanto em suas letras quanto na própria escolha das mesmas.

Embora não seja normalmente vista assim, é possível interpretar “In Your Eyes” como política dentro deste contexto. “Love I get so lost, sometimes/ Days pass and this emptiness fills my heart”, diz o eu lírico. Não é justamente a sensação de uma pessoa quando se encontra em um lugar cujas regras não estão de acordo com as suas próprias? Não se tem para onde correr, para onde fugir. E o que dizer de “In your eyes,/ the light, the heat, / In your eyes, / I am complete”, em que o pronome possessivo your pode muito bem estar associado à liberdade do indivíduo ou da nação?

Além disso, Gabriel, como dito anteriormente, mistura nesta performance ao vivo a letra da música com vocais oriundos da África, de forma a criar um mosaico sonoro que envolve o ouvinte, mesmo tendo uma base instrumental repetitiva (o que, neste caso, não é um demérito). Os diversos percussionistas também auxiliam na criação deste quadro emocionalmente (e politicamente) explosivo.

And all my instincts, they return
And the grand facade, so soon will burn
Without a noise, without my pride
I reach out from the inside

- “In Your Eyes”

Além do mais, esta música serve como ligação para a música mais política da noite: “Biko”. Esta gira em torno da morte de Steven Biko, um líder estudantil sul africano. É claro que ela é um adendo poderoso a este set, o qual, embora curto, é tão penetrante e envolvente. Uma vez mais, a percussão “salta aos ouvidos”. A platéia acompanha, o que torna tudo ainda mais emotivo.

A letra da música, apoiada pela percussão, pelos gritos de guerra quase tribais de Gabriel, pelo endereçar (“To South Africa”, depois “To cold shots”, etc), pela euforia da platéia (que responde à música completamente, desde o primeiro segundo), enfim, não tem como não cativar a quem a escuta. É impossível não se emocionar neste momento do show.

When I try to sleep at night
I can only dream in red
The outside world is black and white
With only one colour dead

- “Biko”

Porém, na minha opinião, o show ganha ainda mais emoção com a entrada de Sting. O seu set possui quatro músicas e começa com “Don’t Stand So Close”, em que o ex-The Police figura sozinho no palco com a banda. A platéia vai à loucura quando a música começa.

Porém, tudo o que está bom pode melhorar. Sting chama Bruce Springsteen ao palco e a banda toca a que acredito ser a melhor música do show inteiro: “Every Breath You Take”. A versão abaixo é esta de que falo, embora o som esteja mais abafado do que no disco que possuo.

A empolgação de todos os músicos no palco já valeria a ouvida, porém a letra expandida (através de um crescendo repetitivo que, de fato, com o perdão da obviedade, só faz com que o vínculo emotivo da platéia com os músicos cresça :p), o falso final, os instrumentos gritando em uníssono, e o teor político de que falei anteriormente mesclam-se à peça, adicionando a ela um valor imensurável. Foi ótimo ter achado no YouTube exatamente a versão que cnsta no bootleg, pois somente participar dela pode validar meus comentários acima.

Por fim, os músicos todos se reúnem no palco para levarem o clássico “Get Up Stand Up”. Embora todas as músicas do disco sejam boas, o único grande problema deste bootleg é que o set list não está completo. Uma pena…

Nota: 4 / 5

Track List

01. Sledgehammer (Peter Gabriel) 
02. In Your Eyes (Peter Gabriel)aprovado
03. Biko (Peter Gabriel)aprovado
04. Don'T Stand So Close To Me (Sting)aprovado
05. Ellas Danzan Solas (Sting & Peter Gabriel)
06. Every Breath You Take (Sting & Bruce Springsteen)aprovado
07. Get Up Stand Up (Peter Gabriel, Sting & Bruce Springsteen)

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